De onde estava o Leão, quando o baile preto começou,
pude ver sua boca rio como o Nilo, pintar a ponta do meu dedo.
Desse lugar saltava luz, das duas bolas de noz curiosas em lugar de olhos.
As linhas de vidas dos cabelos caracóis que resistem, e se enrolam em todo o meu corpo.
Imediatamente, meus poros reconhecem o cheiro do Leão e as linhas atravessam minha pele.
Era um Leão preto. Do lugar onde estava quando o baile começou, uns olhavam com medo, outros estavam em transe, alguns o odiaram por tamanha beleza.
A boca rio gigante escolheu pintar o meu dedo, enroscar os fios em minha pele, se colocar em minha guarda. Ele se encontra em todos os lugares, na constância de sua morada em mim.
A noite avançava e um mundo de olhos se voltou para nós, Leão príncipe preto, além de me prender, levou-me ao centro do baile e comigo dançou como se fosse rei.
Seguimos do lugar onde ele estava no baile e desde então, Leão se colou à minha pele e nunca mais deixei de sê-lo, ainda que às vezes eu seja sua mãe, irmã, filha ou apenas criança andando feliz, acompanhada por seu amado Leão preto
Vem em
versos,
na
língua
Rouba o
tempo do tempo
e diz a
Exu que o tenha,
pois que
seu falo é vida!
Não
aquela que se ergue abrupta,
em forma
de poder
mas a
que vem no amor, na doçura da dança,
no
veludo da voz.
Te
jurei, Leão:
Pequeno
gigante,
Orgulho
de mãe,
Criança
negra,
negra,
negra,
como o
céu negro e meu coração.
Escreveu
seu nome no centro da minha orelha
Sangramos
E Leão
caminha levando beleza,
pintando
palavras de preto
A ponta
do meu dedo colada em sua nuca
Nós,
ligados pelo horizonte acima de seus olhos
O menino
leão em minha história
Acena, a
cena, o nosso sangue preto.