segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Orvalho dos olhos


Vi meu pai em pedaços
e minha mãe se fazendo homem, tentando lhe juntar

Vi minha vó gargalhar entre escaras
e chorar pelo o umbigo

Vi minha irmã virar rio
A outra irmã virar rocha

Minha tia enlouquecer
entre outras tias mortas

entre uma avó índia morta
entre um avô branco morto
entre um avô preto índio morto

Eu vi um horizonte de árvores e magia
uma terra de nome esperança
batizada em cocar, velas, profecias

Vi essa mesma terra saqueada
habitada por estranhos
com as paredes pichadas, escrito:

vazio, vazio, vazio

Eu vi meu corpo ser luz, chama cigana
Vi meu corpo dançar nas costas de um homem menino grande

Vi este homem quebrado, minúsculo

Me vi, no reflexo da janela cheia de chuva

Meus olhos cansados de ver.

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