Como se houvesse voz na estrada, e o passo não fosse previsto, cantado feito pedra por uma feiticeira brincalhona.
Como se não houvesse o sonho de uma noite de sol e lua cheia, um terraço, uma janela-pintura, o céu metade preto - nuvem densa lua cheia - e o sol... Escandaloso!
E o calor na verdade fosse gentil e fizesse as nuvens se descolarem com leveza do asfalto, e evaporarem rumo ao céu e subirem reluzentes com um rabinho encantador.
Como se nesse momento, pingos de chuva caíssem bem fortes e imediatamente todos saíssem de suas casas e se pusessem a dançar.
Como se houvesse terraço e eu brincasse na chuva e meu grito fosse doce e escutável.
Como se não houvesse rapaz, e nem papel em sua boca, e palavra não pudesse ser dor e homens não pudessem matar.
Como se não houvesse sempre um olhar entrecortante sobre mim e minha menina.
Como se minhas crianças tivessem pais, e seus olhos não fossem perdidos, e não tomassem pílulas de matar felicidade, e não me abraçassem como se quisessem se libertar ou me libertar.
Como se não houvesse: tempo, relógio, doença, dinheiro, data, papel.
Como se noite fosse só noite e dia fosse só dia, como se soubéssemos pintar.
Era quase meia-noite, acordei, como se lágrimas fossem chuva.
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