sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Pequeno canto de flor


Estou nua.
Existo em infinitas flores que despedaço e lhe entrego.
Tenho nas mãos feridas,
todo o tempo e memória, olha!

Abro-as como o peito,
os dedos e o ventre.

Estou nua,
para que eu não me encerre em meus fins, lhe entrego.
Toma-me os olhos com cuidado, porque sou terra, também sei voar.



quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Carmimilás

Linde Bialas

Teu silêncio não é preto como a cor que esconde a cor de lua dos seus cabelos.
É vermelho, como o casaco em seu corpo, como minha cor preferida.
Sendo vermelho seu silêncio,
como conceber o vermelho ser também medo?
A despeito de todas as cores presentes na palavra medo.
Não consigo descobrir a cor dos seus olhos porque não posso
fitá-los, talvez sejam pretos.
Ainda acreditando que há mais cores ali, além de um par de mãos, alguns lenços, uma vida inteira e a vida de não sei quantas crianças nascidas de ti.
É possível dar vida e sentir medo.
Se penso medo, é quase um abraço.
Não te conheço e seu abraço é como entrar no mar, quase entendo seu medo vermelho.
Se caminhasses por todas as estradas dos mapas desenhados em suas pernas, ainda assim, sentirias medo?
Se passeio rapidamente pela casa de seus olhos,
visito um medo vermelho,
vermelho desejo, ele me acalma e me destrói.
Medo do abismo que é o desejo e do que a vida faz com pessoas que desejam.
É penoso, dolorido, estar no limiar, na ponta do abismo medo, mas como é prazeroso, meu Deus!
O vício na maresia dançante, o laço que ora aproxima, ora afasta,
o hábito de catar as faíscas do seu olhar.
Quero caminhar as estradas, saltar nos mapas, nas cores, nos vazios.
Quero a cor da lua e o preto dos seus cabelos, todas as marcas, feridas, rasgos,
tudo o que te queima e também o que te ilumina.
Para sua boca eu não tenho medo de olhar, é o céu,
são seus dentes, lábios e dedos, fazendo a redenção do peso de todo o dia,
É sua voz, invadindo o tempo. É você, vermelho-lilás.